Cafe com Leitmotiv
É de noite que minha solidão se revela,
talvez seja em respeito aos outros,
meus amores,
cujas solidões me fazem companhia
e espreitam receosos que algum desespero
acabe levando minha solidão para longe da deles.
É de noite que passeio pela casa
e os ecos dos acontecimentos me
percorrem, me relembram:
que devo dormir,
que devo existir sem muitas aflições,
que devo me agarrar
aos cafés, aos cadernos e aos doces,
para não me perder,
sem volta,
neste labirinto de sentir.
E sentir.
E sentir.
É de noite que tudo o que nego,
(entre tarefas e banhos)
esvai pelos poros e
inunda o silêncio em volta de mim.
É de noite que lavo os pratos fundos
da sopa de aspargos que fiz
(pequenas vitórias fumegantes).
É de noite que minha casa me assombra.
por me pertencer com docilidade impiedosa
e por guardar tantos objetos
(Deus, como pude acumular tantas lembranças)
Fico horrorizada quando me dou conta
que sou dona do seu destino
(da casa)
e da limpeza das gavetas e das almas dos que nela moram.
Tão complicado ser adulta e
a maçã, o arroz, o filet de peixe com batatas
terem todos,
todos, a minha assinatura.
Custoso ser autora do dia-a-dia.
Vontade de meus 6 anos
e perguntar,
plena de ignorancia concedida:
“Mãe… tem sorvete de creme?”
(para marilena matiuzzi)
2 Comments:
querida cláudia, fui lendo letra por letra, bebendo a tradução dos (também) meus sentimentos que vc sabe com maestria fazer, quando deparei-me com meu nome. que surpresa! fiquei feliz em ter participado um pouco desta solidão noturna, por vezes tão rejeitada por aqueles que a sentem, mas seguramente tão amada e tão necessária. bjs e muitas pequenas vitórias domésticas para a próxima semana.
fico feliz de ver que esse blog vai seguindo com tanta beleza e carinho
beijos
alice
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