segunda-feira, outubro 01, 2007

Eu sei a sua idade

Desde sempre tenho uma mania estranhíssima de observar as pessoas.
Acho a paisagem humana a coisa mais linda, a coisa mais rica possível.
É o que observo quando viajo. Mais que monumentos, espetáculos da natureza ou seja lá o que ou onde for, eu olho as pessoas olhando.

Mais do que olhar. Imagino (e acredito) nas histórias que enxergo nelas.
A metodologia (quase uma patologia)começa comigo visualizando o armário que guarda as roupas da criatura em foco. Mas isso é assunto para outro dia. Hoje quero falar sobre calçadões, pistas de Cooper (ops, coisa mais antiga,praças ou qualquer raio de lugar onde as pessoas vão, invariavelmente de carro, para caminhar ou correr.

Não há intenção de crítica nenhuma a quem pratica o saudável hábito de caminhadas ou corridas diárias. Eu faço isso. Histéricamente, faço. Todo santo dia, trepo na esteira e só desço, no mínimo, quarenta minutos depois. Neste domingo, resolvi caminhar na rua, coisa que só faço quando estou au bord de la mer mas, atendendo a pedidos, fui caminhar na calçada. Passe um quilo de protetor solar no rosto. E assim, entijolada, peguei minha viseira, short, top e fui. Ao chegar, a primeira coisa que fiz foi tirar a viseira. Em menos de quinze minutos deu pra perceber que apenas as senhoras com mais de 40 usam o acessório. Outra bandeira da meia idade, é ficar levantando os braços, abrindo e fechando as mãos. Pode observar, no mundo inteiro, tenho certeza que jamais alguem com menos de 40 vai correr e dar uma despertada na circulação das extremidades. Não vão. Nem se lembram que existem coisas como circulação (ou falta dela) nas pontas dos dedos ou pés.

Enfim. Garotas...colegas de generation... deixem as viseiras em casa, evitem fazer alongamentos enquanto caminham (sinal de dor) mas, protetor solar, como naquele filme, usem com fartura mas, por favor, nada de passar blush (fala-se blush ainda), por cima.

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Cronista crônica

Curioso como, sem querer acabo estabelecendo limites para os assuntos abordados nos blogues onde escrevo. Na verdade escrevo regularmente apenas no Mentiras Históricas (www.mentirashistoricas.zip.net)mas, ultimamente, tenho tido desejos de relatos menos poéticos, menos intensos, mais crônicas mesmo. Entao escolhi os olhos de ler a vida para ser esta minha espécie de querido diário. Que bobagem, estou feliz com a decisão. Como se fosse uma conquista, como se só a partir de agora tenho licença despoética para escrever sem compromissos, tirando fotos dos acontecimentos. O que farei, com alegria bem-te-vi, a partir de hoje.

terça-feira, outubro 17, 2006

Se um anjo me viesse e
oferecesse um milagre, pediria:
quero quereres.

segunda-feira, agosto 28, 2006

cadeira sobre quadro que so eu gosto.


Essa foto “apareceu” na minha máquina.
Alguém (provavelmente eu) resolveu registrar
a ausência de alguém (provavelmente a minha).

segunda-feira, julho 31, 2006

Milagre




Achei um vaso no canto da varanda.
Um fiapo de vida resistiu ao tempo
do meu esquecimento e
emergia da terra preta,
molhada só quando a chuva queria.
Eu, que não tenho dedo ou sonhos verdes,
peguei o vaso, revolvi a terra,
e a molhei religiosamente,
dia sim, dia não.
Levei minha plantinha pra
tomar sol, de vez em quando.
E grávida de vida e ignorância,
deixei a natureza seguir seu curso.

Veja o que nasceu.
(alguém sabe o nome desta flor?)

quarta-feira, julho 12, 2006

Do tempo e do vento




Coisas são mais resistentes que pessoas.
Coisas sobrevivem ao tempo.
Corpos com nomes e datas, não.
Fico pensando na eternidade dos objetos e
tenho saudades sem dono das mãos que
se queimaram em brasas,
que aqueciam o ferro,
que alisava tecidos sujos da vida de alguém.
Tecidos que vestiam corpos,
que portavam almas
amarrotadas de sonhos espremidos
no fundo das obrigações. Da lida, como
se dizia sobre tudo o que não era prazer.
Olho para as coisas que tomo emprestado
do tempo que já foi o presente de alguém e penso:
até as coisas têm destino.

segunda-feira, junho 26, 2006

Eu acho. Por enquanto, acho.






Eu acho que embaixo da mesa pode ser muito vazio.
Acho que quadros não devem ficar cruxificados em paredes.
Acho que arte é tudo aquilo que nos enfeita.
Acho que flores secas trazem consigo o frescor de alguma primavera
e por isso, estão vivas e são eternas.
Acho que geladeira antiga não merece mais carregar
tantas barras de gelo em suas costas.
Acho que um peixe de pedra esculpido pela natureza
tinha que louvrear ao lado de Monalisa.
Acho que todo chão deve ser de madeira.
E que uma casa se constrói com o tempo e com o modo como a vida
das pessoas se espalha dentro dela. Feito gota de tinta em papel areado.

sábado, junho 24, 2006

Mariage




Sempre quis uma chaleira vermelha. Sempre
Mas só descobri este desejo quando a vi, em
destacada solitudine,
me esperando entre as outras milcoisas
da lojinha do mercado.
Peguei minha chaleira rouge com a fome indisfarçada
de um reencontro há muito esperado.
E a trouxe para perto da minha vida. Vida toda.
Nela vou produzir águas febris
e jorrar ternuras em chávenas fartas, boquiabertas.
Nela vou macerar coisas, escaldar curas nos vapores verdes.
Dela, sairão encontros e conversas de depois da meia noite, sairão confissões baforadas por sobre o calor
das beberagens macias e escuras que farei.
Minha chaleira vermelha vai esquecer de hoje
junto comigo. E para sempre, estaremos.