segunda-feira, julho 31, 2006

Milagre




Achei um vaso no canto da varanda.
Um fiapo de vida resistiu ao tempo
do meu esquecimento e
emergia da terra preta,
molhada só quando a chuva queria.
Eu, que não tenho dedo ou sonhos verdes,
peguei o vaso, revolvi a terra,
e a molhei religiosamente,
dia sim, dia não.
Levei minha plantinha pra
tomar sol, de vez em quando.
E grávida de vida e ignorância,
deixei a natureza seguir seu curso.

Veja o que nasceu.
(alguém sabe o nome desta flor?)

quarta-feira, julho 12, 2006

Do tempo e do vento




Coisas são mais resistentes que pessoas.
Coisas sobrevivem ao tempo.
Corpos com nomes e datas, não.
Fico pensando na eternidade dos objetos e
tenho saudades sem dono das mãos que
se queimaram em brasas,
que aqueciam o ferro,
que alisava tecidos sujos da vida de alguém.
Tecidos que vestiam corpos,
que portavam almas
amarrotadas de sonhos espremidos
no fundo das obrigações. Da lida, como
se dizia sobre tudo o que não era prazer.
Olho para as coisas que tomo emprestado
do tempo que já foi o presente de alguém e penso:
até as coisas têm destino.